quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Sobre nossos desertos e sorrisos

Quantas vezes o cotidiano nos engole e deixamos de rir? Caímos numa rotina que as risadas passam a ser risos, os risos passam a ser um "esticamento" tenso de lábios resultando num discreto movimento do cantim da boca. E quando percebemos os lábios ficam tristes e não gargalham mais.

O tempo passa. E em tempos pandêmicos, máscaras não mostram mais as risadas, nem os risos, nem o cantim da boca. Os lábios ficam tensamente encostados um no outro. E os dias passam, e as noites também. 

Quantas risadas fantásticas guardamos para nós? Quantas vezes achamos que não nos acontecem muitas coisas engraçadas diariamente? Talvez porque esquecemos o quão gostoso é rir alto. Talvez porque ficamos com vergonha de rir até soltar ronco de porco ou engasgar. Talvez porque nossa risada seja como um motor falhando que começa e para. Talvez porque perdemos o fôlego. Talvez porque alguém não riu, muito menos sorriu, quando contamos algo que nos faz sorrir só de lembrar. Já ouviu risada de criança?  [Você está rindo? Eu também estou! Estamos rindo juntos]. 

"Conte-me algo engraçado sobre você."  

Penso que talvez não esperemos por esse tipo de pedido. Quem é que hoje pede algo assim? Talvez alguém que procura no desconhecido dos algoritmos e códigos alguma razão para continuar dando risadas de si. Ah! Mas procurar no desconhecido? Por que não procurar no conhecido? 

Estamos há dias em um deserto! Areia, areia, areia, imensidão de céu azul, imensidão de estrelas, calor e frio, alternados pelas horas. Estamos exaustos, sem vontade, cansados de nós mesmos, cansados de lutar contra nossa mente caótica. O deserto é conhecido por nós, por nossos olhos. Simplesmente caímos de joelhos, e deixamos a areia nos abraçar.  Fechamos os olhos. E, perdendo a noção de tempo, os abrimos novamente. Lá no horizonte sentimos uma brisa fresca, uma paisagem colorida em tons verdes que não diferenciamos  com exatidão. A paisagem está trêmula. Hesitando em levantar, o cansaço nos prende. Contudo, a lembrança do conhecido nos revigora. Precisamos chegar até lá. E se for só uma peça da nossa mente??? A incerteza nos aquece. Levantamos rumo ao desconhecido. Passos trôpegos, escorregões, queremos ir mais rápido. E então sorrimos sob a sombra de palmeiras. 

15:15, nono dia do nono mês de 2020 

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