domingo, 10 de setembro de 2023

A Ponte...

Ponte,

uma ligação

uma separação

do precípio alturas profundas

águas lentas imundas

redemoinhos de pensamentos

redemoinhos traiçoeiros

perigosos momentos

mergulhos nos nevoeiros

grito

salto

impacto

mergulho profundo...

12:25, décimo dia do nono mês de 2023.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Que delícia!!!

 



Escrever é uma das coisas que faz com que eu desligue um pouco os pensamentos acelerados... agora, escrever com música, com música boa, vou te contar!!! É uma delícia!!! Olha a playlist que encontrei no YouTube antes de retornar ao texto da postagem anterior! 

Uma playlist de Happy Blues! Será minha playlist matinal! Instrumental maravilhoso!!! Estou encantada! Vou deixar o link abaixo pra quem quiser ouvir um tiquim! Depois contem se gostaram. Se não é seu estilo musical, permita-se. Se não quer permitir conhecer boa música, por favor, feche esta aba e vá cuidar dos seus afazeres e ouvir sua boa música! [risos] Eiiiii!!! É brincadeira!!! Foi só uma sugestão sugestiva! 

É que minha escrita pareceu fluir mais! Estou com o corpo relaxado. 
Detalhe: estou utilizando fones de ouvido! Gosto!! 

Link do vídeo: Canal Blues Lounge Happy Blues  (YouTube)

11:07, quarto dia do nono mês de 2023.

Ainda sobre livros e outras coisas...

Ontem comecei minha luta para colocar as coisas no devido lugar. Fisicamente, claro; porque mentalmente nem sei por onde começar.

Dizem que organizar nosso espaço, limpar, doar, livrar-se de coisas que não precisamos mais, ajuda no quesito saúde mental. Mas, é um processo exaustivo. Optei começar pelos livros, pensei ser mais ágil. Só que a pessoa não se contenta em só guardar... precisa de um certo processo (óbvio, dadas as circunstâncias), algo simples: limpar armário, limpar os livros, listá-los, contá-los e depois colocar nos devidos lugares [fiz uma planilha para organizar essas informações]...

[alguns dias depois... novo mês!!!!@@@@####$$$$%%%%¨¨...]

Retomo este texto já no quarto dia do nono mês de setembro de 2023. O quarto parece uma casa que acabou de receber novos moradores: caixas e livros empilhados, armários para organizar, só as coisas básicas para a rotina diária e a cama arrumada; guarda roupas também em fase de organização. 

E não bastasse a enorme lista de livros físicos para ler, outro dia inventei de começar a ler um livro on-line... resultado, na primeira página já tomei um puxão de orelha: lembrei das sessões de terapia, nas quais a psicóloga dizia que a organização do meu espaço refletia na organização da minha mente e ao contrário era válido. Além disso, uma passagem de um livro famoso na qual um dos personagens diz: "se não sabe onde quer ir, todos os caminhos servem." (mais ou menos isso).

Sim, penso que raras as vezes mantive minha mente organizada e, consequentemente, focada em algo... tudo nos seus devidos lugares, lugares limpos, arejados. 

Depois de um mês de quase total isolamento social, passei por um período de longas cinco semanas de internação hospitalar. Posterior, mais semanas em casa. A sensação é que desaprendi tudo o que sabia. Sinto minha mente atrofiada, meu corpo atrofiado, meus movimentos atrofiados. Agora é o recomeço... agora a terapia mental e física, agora os primeiros passos, os primeiros movimentos... e até poucas horas eu queria tudo de uma vez: vida pessoal, faculdade, trabalho, quarto, tudo organizado e pronto para retomar, esqueci as pernas trêmulas e o corpo bobo, esqueci da mente dispersa e faltou ar, senti tudo rodar, as vistas escureceram, muitas cobranças, indiretas e diretas porque sou adulta e preciso estar bem. A família nos impõem; nossos valores nos impõem; nossos amigos e colegas impõem; eu imponho que tenho que estar pronta imediatamente para tudo. Por que? Eu não sei a resposta! 

Então, lembro de uma das conversas com a psiquiatra. Estávamos no pátio, era uma sexta-feira de manhã, por volta de nove e pouca da manhã, céu azul, quase límpido, poucas nuvens ralas, o vento estava presente, brincando como as folhas da mangueira jovem ali perto de nós, balançando nossos cabelos, fazendo com que nossos dedos os colocassem atrás da orelha numa tentativa de ficarem quietos, em vão, claro! Depois de alguns minutos da minha fala chorosa, ela respondeu que eu deveria levar a vida de uma maneira mais leve, que uma receita de bolo (grosseiramente falando, um exemplo básico) não era executada colocando tudo dentro de uma vasilha e levado diretamente ao forno. Há processos, há medidas, há tempo, há atenção, há cuidados e eu precisava disso, caso eu quisesse um bolo gostoso. Naquela hora, como em outros momentos, senti aquela analogia como fosse uma coisa besta. Hoje faz sentido. Eu quero um bolo pronto, sem seguir os processos, sem observar as medidas, sem o tempo necessário. Não vai prestar!

Um padrinho meu disse uma vez: "primeiro as primeiras coisas!"; na terapia ouvia que era importante ir por partes, pequenas partes, um passo por vez. Aquela máxima: "Um pequeno passo para uma grande jornada." É preciso começar, só começar. Olho em volta, eu sou o centro, o ponto de partida, preciso começar por mim. Autocuidado, autoconhecimento... 

08:39, vigésimo terceiro dia do oitavo mês de 2023...
[...]

10:47, quarto dia do nono mês de 2023.




sexta-feira, 11 de agosto de 2023

O céu na cidade com Van Gogh

- Olha só, parece o céu de Van Gogh contrastando com a cidade...
- E parece ter umas bolas de fogo na cidade...
Os olhares tinham a mesma direção: um muro com a releitura provocativa de A noite estrelada de Vincent Van Gogh e a releitura de uma cidade como se estivesse representada em uma revista HQ.

Podemos interpretar as coisas de muitas formas: através das nossas emoções, nosso conhecimento, nossa ignorância, nosso ângulo de vista (com conotação e denotação)...

Estavam lá, protegidos do sol, ouvindo o silêncio um do outro, abaixo do céu azul numa tonalidade sarcástica...

O parque estava tranquilo como no dia perfeito do Lou Reed...
O verde das árvores serviam de refúgio para os pássaros... 
As pernas retornam aos lentos passos.

Paro antes de seguir rumo a Ricardo Reis.

Referências:
-  AIDAR, LAURA. A noite estrelada  de Vincent Van Gogh: análise e significado do quadro. Disponível em: https://www.culturagenial.com/quadro-a-noite-estrelada-de-vincent-van-gogh/. Acesso em 11 ago 2023.

- REED, LOU. Perfect dayhttps://youtu.be/9wxI4KK9ZYo (caso queira ouvir).

- REIS, RICARDO:  um dos heterônimos de Fernando Pessoa.

18:01, décimo primeiro dia do oitavo mês de 2023.



quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Temporada 2...

Há momentos em que não pensamos direito, ou pensamos demais ou de menos. No meu caso, não sei qual foi a medida para tais atos. O que sei é que não saiu barato. E agora vem as parcelas.

Certa vez escrevi sobre livros e bibliotecas, como são silenciosos e gritam ao mesmo tempo, ambos... 

Retornar à uma biblioteca agora pode parecer um pouco barulhento para mim. Em breve quero fazer isso.

Tenho mais livros do que amigos... e não consigo conectar com eles, nem com os livros, tão pouco com os amigos.

Engenheiros do Hawaii - A revolta dos Dandis - parte 01. 

19:19, décimo dia do oitavo mês de 2023.



quarta-feira, 7 de junho de 2023

Diários demônios...

Quanto custa uma vida? 

Há muitos modos para precificar essa pergunta... valor monetário, valor emocional, valor sentimental. Digamos que varia de indivíduo para indivíduo. Há quem diga que não há um preço.

Indo lá para a semântica, há 03(três) palavras distintas: "custa", "valor", "preço". No uso comercial, coloquialmente falando, podem ser sinônimas - que, embora descritas de formas diferentes, podem ter significados parecidos. Contudo, há significados e significados, significantes e (in)significantes... depende do que é e de quem é... contextos...

Situação 01: uma camiseta numa vitrine
- Quanto custa essa camiseta? 
- Custa R$49,90 à vista.

- Qual o valor dessa camiseta?
- R$ 60,00, mas à vista - no dinheiro - consigo um desconto para você. Qual será a forma de pagamento?

- Qual o preço daquela camiseta?
- R$60,00 no cartão de crédito ou R$ 49,90 no dinheiro ou pix. [risos, é necessário atualizar]


Situação 02: uma camiseta do Pink Floyd numa vitrine [sim, é provável que o que estou ouvindo agora tenha influenciado no exemplo]
- Quanto custa essa camiseta? 
- R$ 199,90 à vista...
[Vozes na minha cabeça: o que eu teria que abrir mão para comprar essa camiseta edição especial do The Dark Side Of The Moon?]

- Qual o valor dessa camiseta?
- R$ 199,90 à vista...
[Vozes na minha cabeça: é muito barata se comparada com a grandiosidade do álbum!!!]

- Qual o preço daquela camiseta?
- R$ 199,90 à vista...
[Vozes na minha cabeça: vou levar, depois economizo em outras coisas...]


Situação 03: uma camiseta com um réptil verde do lado esquerdo ou com uma etiqueta azul, branco e vermelho, cujas letras principais destacam-se T e H numa vitrine
- Quanto custa essa camiseta? [Pessoa aleatória no shopping]
- R$ 399,90!! [Vendedor olhando "de cima embaixo" o cliente] 
- Tem desconto? [Pessoa aleatória no shopping]
[Vozes na minha cabeça: há séculos não vou ao shopping... e, obviamente, eu não faria esse tipo de questionamento]

- Qual o valor dessa camiseta?
- R$ 399,90!!! [Vendedor impaciente] 
- Divide no cartão? [Pessoa aleatória no shopping]
[Vozes na minha cabeça: Não é possível que alguém gaste isso tudo em uma camiseta!!!]

- Qual o preço daquela camiseta?
- R$ 399,90!!! [Vendedor impaciente, claramente julgando sua condição financeira]
- Tem outras cores? Tamanho M ou G dependendo? [alguns minutos depois] Vou levar essa mesmo! [Pessoa aleatória no shopping]
[Vozes na minha cabeça: não é possível!!! Quantas camisetas você conseguiria comprar com esse valor???]

Quais são seus valores, seus custos, seus preços?

Uma luta para sair de casa; pagar a consulta; relatar quase tudo outra vez; duas receitas - em duas vias; ir à farmácia...

- Posso ajudar?
- Quero saber quanto custa essas medicações...
- Tem o genérico? Pode ser? É mais em conta...
[alguns minutos depois]
- Precisa da minha identidade né?
- Sim, pode preencher aqui? Uma burocracia danada né?!
- Pois é! Comprar remédio para viver tem que ter essa burocracia toda e é caro, já para morrer nem precisa né?!... E é bem barato... 

A farmacêutica olhou assustada.  Ele e eu rimos desconfortavelmente... fui ao caixa... 

Para conseguir viver burocraticamente, recomecei meu tratamento psiquiátrico hoje... 

Learning to fly - Pink Floyd (vamos ouvir?!)

The Dark Side Of The Moon (ouça! Recomendação para quem entendeu, se identificou ou riu da situação 02 - temos algo em comum)

Money (ouça! Recomendação para quem entendeu, se identificou com ou riu da situação 03)


21:31, sétimo dia do sexto mês de dois mil e vinte e três.

terça-feira, 9 de maio de 2023

Sobre dois mundos, um vulcão e duas rodas...

Roberto Carlos, pouco mais de cinquenta anos, estatura mediana, sério, peso "leve", cabelos pretos, sorriso discreto, voz tranquila, olhar longínquo, olhos brilhantes inundados de emoção, algumas centenas de vitórias na bagagem. Vitórias essas além dos podiums das competições, vitórias sobre os desafios impostos pela vida. 

Ela, quarenta e um anos, muitos cabelos brancos, estatura mediana, séria, peso "pesado", voz e sorrisos envoltos de ansiedade, unhas roídas, algumas dezenas de projetos não concluídos. 

Com vinte e nove anos, Roberto Carlos descobriu o esporte. Ela, aos vinte e nove anos, não tinha projeto de vida, acreditava que morreria antes dos trinta anos. [Ela queria morrer]

O que o Roberto Carlos e ela tem em comum? Mutilados. Ele fisicamente... ela... bem, ela psicologicamente. O que fizeram disso? 

Ele seguiu a vida. Óbvio! Com suas dificuldades, mas seguiu. Ela estagnou no tempo e no mundo da sabotagem, perdeu o caminho e a vontade. Ontem, a vida lhes proporcionou um encontro. Ela ouviu um breve relato da história de vida dele. A crueza e riqueza de detalhes daquela manhã fez com que ela pudesse "voltar" àquela cena. Participou como testemunha a espreitar através de uma fresta. E a tarde, estava lá, testemunhando a própria cena, com a mesma riqueza de detalhes em tons amarelos de palidez.

Para ele, era manhã. Para ela, fim de tarde. Ambos, não sabiam o que dizer. Ambos, por um descuido, tiveram as vidas transformadas. 

Mil oitocentos e quinze, um vulcão entra em erupção na Indonésia, no Monte Tambora. Tamanho impacto causou alterações climáticas a milhares de quilômetros para além do raio da erupção vulcânica. O ano seguinte ficou conhecido como o ano sem verão. O frio dominou vários países, a fome reinou, animais morriam de frio ou para amenizar a fome humana. Dentre eles, os animais de tração, utilizados também como meio de transporte. Como alternativa, em mil oitocentos e dezessete, um barão barão alemão inventou algo que mais tarde seria aperfeiçoado e transformado no que hoje conhecemos como bicicleta.

É sobre isso... o que fazemos com nossas adversidades? Não tenho a resposta. Sei o que ela não fez. Sei o que ela deixou de fazer. Sei o quanto limitou-se a um perímetro de (falsa) segurança. Agora sei também o quanto Roberto Carlos não se limitou, sei o quanto esforçou e superou a si. Sei agora que o mar não foi suficiente para impedi-lo de ir além. E ele foi, simplesmente seguiu com seu diafragma quase explodindo pelo esforço do restante do corpo. Seguiu com suas pernas e sua mente, seguiu com seu braço esquerdo. Roberto Carlos seguiu, nadou, pedalou e correu. Homem perseverante, persistente e, acima disso, homem de fé, muita fé! 

Onde ela estava? Estava em um mundo criado pela própria mente para sobreviver da forma mais simples possível. Será que simples? Francamente, não sei. Até mesmo porque, criar carapaças para ocultar do mundo as feridas da alma, não é nada simples. Dá trabalho, é desgastante, é dolorido. Ele abriu-se para o mundo, enquanto ela fechava cada vez mais o seu mundo de ilusões perigosas e limitantes. Ele expandiu. Ela limitou-se. O vulcão no Monte Tambora foi além mares e montanhas, dizem ter influenciado em guerras, bem como levou à invenção de um novo meio de transporte - uma bicicleta raiz (feita de madeira). 

E assim, ontem, dois mundos estavam num mesmo ponto geográfico. Ele é pai. Ela tem medo de ser mãe. A face dela ficou tão rubra quanto a lava de um vulcão. Olhos marejados como céu a chover, corpo estremecendo como efeito do choque de placas tectônicas... Ele firme, postura ereta, dono de si, repleto de uma rica humildade, como o velho Tambora, imponente na sua simplicidade!

Francamente, esse post tomou um rumo não traçado, quando abri a aba para digitar. A intenção era falar sobre a principal diferença, a oposição gritante. Roberto Carlos, cinquenta e poucos anos, ciclista, nadador, corredor, teve o braço direito amputado aos quatro anos de idade em um moedor de cana [curiosidade de criança, piscar de olhos de adultos - acidentes!]. Ela, quarenta e um anos, dois braços inteiros, duas pernas inteiras, audição (diga-se de passagem) perfeita, visão (assim, pouca e meio) turva em alguns momentos, sedentária, com transtorno de ansiedade e depressiva em estado estável por causa da medicação. 

A visita do Roberto Carlos ao Instituto Lucas Campos fez com que eu chegasse até o vulcão Tambora, na Indonésia. 

Enfim... diante do Monte Tambora, a covardia e a coragem ficaram frente a frente. 


Referências: 

Google - pesquisar sobre: surgimento / invenção e aprimoramento da bicicleta; vulcão / monte Tambora - Indonésia -  ano 1815.

Instagram - @mynamerobertocarlos @institutolucascampos.

01:51, nono dia do quinto mês de dois mil e vinte e três.