domingo, 29 de novembro de 2020

2020 - as avalanches fora do Everest e os potes de sorvete

Com certeza 2020 já é capa, título e tema para novos livros. Engraçado, só me recordo de um ano ímpar como título de livro... 1889. Os demais anos que lembro como sendo título de livro são pares: 1968, 1984, 1808... 2020 [ops! 2020 ainda não, talvez!]

Não foi preciso escalarmos uma montanha gelada para sentirmos quão aterrorizante uma situação aparentemente tranquila pode ser. Como dizem os memes criados ao longo deste ano, "os roteiristas de 2020 não 'dormiram no ponto'!". O medo do "bug do milênio" foi apenas um rascunho se comparado aos acontecimentos do doiszerodoiszero

Fico imaginando quantos roteiros cinematográficos teremos [só] baseados na base governista atual! Fico imaginando o elenco de Chigaco Fire de queixo caído com corpo "bombeiril" do Pantanal liderado pelo  excelenti(incompeten)tíssimo sr. Males...  E da série "as Fezes que deixamos ficar", poderemos ter o surreal O Excrementonaro concorrendo ao oscar de "Miordiárreia verborréica na categoria Nesciência presidenciável! Sério, não vou falar nada... "mas, só acho engraçado que...

Ok! Eu poderia escrever agora sobre como o 2020 do Brasil está pior do que certas áreas de esgoto a céu aberto, poderia escrever que ainda falta 01 mês para o ano acabar e, em pleno caos social, econômico e de censura cultural, o país do "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" deixou que um estado da federação literalmente apagasse! [onde está o Brasil com seu escudo "acima de tudo"? Acima de tudo, não é o Brasil, é o céu, minha gente?! Onde está o Deus acima de todos?! Será que Ele puxou a coberta e deixou os pés de alguém descobertos?] Oi?! Então, apagou! E não foi por falta de pagar, pois o "a pagar" já esteve nas contas passadas e estará na conta dos próximos meses!!! Pasme! Uma avalanche atrás da outra, sem tempo para recuperar e preparar um abrigo... Triste! 

Mas o intuito deste post é falar de como estou lidando com minhas avalanches mentais. 

Particularmente, não lembro de ter um ano tão "montanha russa" assim na minha vida [desconsiderando o contexto geral em relação a humanidade]. Aprovação em um curso, hospital, demissão, distanciamento e isolamento social, desafios virtuais - adequação a um nova [mas não tão nova assim] forma de interagir. O trem foi tão (e ainda está) tenso que até mesmo a pessoa aqui que adorava ficar sozinha começou a ter pequenos surtos de abstinência social. 

Logo eu que gosto de abraçar, de dar um aperto de mão firme... 

[[risos] faço um parêntese entre colchetes aqui: abraço é muito bom, receber um aperto de mão firme é muito bom também! Agora me vem aquele povo que abraça como se estivéssemos cheios de espinhos, mal encosta na gente e ainda dá aquele tapinha desnecessário nas nossas costas... abraço farjuto! "Me poupe! Se poupe! Nos poupe!" Se você está nessa categoria de pseudo abraçador, melhor só ficar no aceno de mão mesmo! Mais fácil e menos frustrante para quem realmente gosta de abraçar! Ôh preguiça que tenho disso, desse abraço que não é abraço! Eu ía fazer uma comparação assaz libertina* aqui, mas o horário não permite - permitir, permite - mas... sabe quando você abre o congelador e vê o pote de sorvete?! Então! Esse tipo de pseudo abraço é o arroz, o feijão, ou qualquer outra coisa - sem ser sorvete - no pote de sorvete! Se bem que, no momento em que estamos, um pote de sorvete com arroz dentro do congelador da geladeira está mais para um cofre do que para um abraço patético! E o aperto de mão!?! Gentedocéu! Qual é a dificuldade de um aperto de mão firme?! Duas coisas frustrantes: aquele aperto que não é aperto, só um encostar de dedos, a impressão que tem é que a mão da pessoa vai cair do antebraço... já tiveram essa impressão também?! Desnecessário a pessoa fazer isso, faz só um aceno com a cabeça então, solta um "e aí, bão?!" "Cê tá boa?" Pronto! Ninguém se incomoda e pronto! A segunda frustração é quando ouço: "Nossa, desse jeito você quebra minha mão, uai!" Dá impressão que estou estrangulando a mão da pessoa... tem uma cena de um filme de terror - não sei qual filme é, só lembro que esse filme passou a tarde naquele "cinema em casa da vida". O carinha lá, o que era o vilão assassino, estrangulava um adolescente que segurava uma banana em uma das mãos, na mesma intensidade em que o menino ía sendo estrangulado, a banana também era! [risos] Eu tenho a mesma sensação de que, ao apertar a mão de alguém que reclama da força que coloco nesse aperto, eu sou as duas mãos que estrangulam o pescoço e a banana simultaneamente! Tem base um trem desse? Não me perguntem que filme é esse, eu não sei, só lembro dessa cena... e nem sei se ela existe em algum filme  mesmo... Se algum leitor aqui for fã de filmes trashes de terror e identificar essa cena, favor deixar nos comentários! Então, fechando o parêntese, em pleno 2020, esses abraços e apertos de mãos [pateticamente desnecessários] se tornaram necessários devido ao contexto pandêmico! Na verdade, eles nem podem existir... mas ainda existem, infelizmente!] 

... logo eu que, contraditoriamente, gosto do meu isolamento v-o-l-u-n-t-á-r-i-o, sinto falta de abraços, de apertos de mãos sinceros, recíprocos e sem nenhuma reclamação. Não sei quando poderemos fazer isso com quem gostamos... não sei até quando seremos privados de tais gestos de afeição, carinho, respeito e doação. 

Um tanto de trem acontecendo e eu pensando que sabia como lidar, até que veio a suspeita de estar infecctada pelo corona vírus. Parece que ali virou uma chavinha que há muito estava emperrada! Foram praticamente 15 dias de angústia, de medo, de raiva... de solidão... eu era como um rato que aparece quando não tem ninguém por perto... Sério! Só quem passou por essa situação entenderá minha comparação [para muitos] asquerosa. E, ao virar essa tal chavinha, "meu mundo caiu" [e olha que estou longe de ser a Maysa hein?!] Não consegui mais acompanhar o ritmo remoto da faculdade, duas crises de ansiedade com parada obrigatória no P.S. e consequente receio de ficar desempregada. 

Francamente, é um estar sem chão! Lidar com pensamentos autodestrutivos, ter que lutar dia e noite contra eles é exaustivo! Aí vem a medicação, consulta com psiquiatra, os questionamentos [alheios] sobre minha relação com o cara que vaga no Universo. A mente em espiral rumo ao Buraco Negro [sentindo que sou uma leitora assídua do Carl Sagan, sóquenão!!]. Eis que surge um edital para um projeto na faculdade! 

Aqui começam minhas reflexões sobre minhas autosabotagens ao longo de 38 anos: "Não vô dá conta disso não!" "Isso não é pra mim não!"... Aquele "Anem" também não era para mim... fui convocada para um curso superior!!! Muita coisa, na minha mente, não era para mim! Quebrei a cara muitas vezes com as coisas que eu pensei que eram! [[risos]... ironia que chama?!] Então por que não arriscar? Eu, na minha humildade também patética [convenhamos, muitas vezes sinto estou na fase "vitimisma fraca"], conversei com uma amiga supercorajosa! Corajosa em todos os sentidos! Expresso aqui minha IMENSA ADMIRAÇÃO E INSPIRAÇÃO pela Corpinho!!!!! [assim chamada carinhosamente (por mim) desde 2008 - ano em que nos conhecemos]. Ela merece um post só para ela, um capítulo, quiçá um livro inteirinho só dedicado a relatar quão especial e forte minha amiga é! Amiga, quando eu crescer quero ter um tiquim dessa sua determinação!!! Então, fechando essas válvulas lacrimais, essa minha amiga meio que "intimou" para eu fazer a inscrição nesse projeto! E sim, fui convocada para participar! Resultado: pouco mais de 30 dias depois da convocação, cá estou escrevendo este na ansiedade de escrever meu segundo post para publicar no blog do projeto! Ráh!!! Imaginando a cara e a fala da minha psicóloga quando eu contar para ela: "o que é que eu te falo?!"[risos]

Se bem que seria meio infame fazer uma comparação libertina, uma vez que estar quase chegando ao ápice de um sussurro audacioso, de deixar a boca seca e o corpo trêmulo e esse momento ser drasticamente interrompido, é pior do que um pseudo abraço e/ou aperto de mão de pessoas potes vazios de sorvete no congelador.

E se você chegou até aqui, obrigada por ser esse potão de sorvete cheio de arroz dentro do congelador!!! Uma pessoa Caríssima por tamanha paciência em me ler!!!!

22:59, vigésimo nono dia do décimo primeiro mês de 2020