Ontem comecei minha luta para colocar as coisas no devido lugar. Fisicamente, claro; porque mentalmente nem sei por onde começar.
Dizem que organizar nosso espaço, limpar, doar, livrar-se de coisas que não precisamos mais, ajuda no quesito saúde mental. Mas, é um processo exaustivo. Optei começar pelos livros, pensei ser mais ágil. Só que a pessoa não se contenta em só guardar... precisa de um certo processo (óbvio, dadas as circunstâncias), algo simples: limpar armário, limpar os livros, listá-los, contá-los e depois colocar nos devidos lugares [fiz uma planilha para organizar essas informações]...
[alguns dias depois... novo mês!!!!@@@@####$$$$%%%%¨¨...]
Retomo este texto já no quarto dia do nono mês de setembro de 2023. O quarto parece uma casa que acabou de receber novos moradores: caixas e livros empilhados, armários para organizar, só as coisas básicas para a rotina diária e a cama arrumada; guarda roupas também em fase de organização.
E não bastasse a enorme lista de livros físicos para ler, outro dia inventei de começar a ler um livro on-line... resultado, na primeira página já tomei um puxão de orelha: lembrei das sessões de terapia, nas quais a psicóloga dizia que a organização do meu espaço refletia na organização da minha mente e ao contrário era válido. Além disso, uma passagem de um livro famoso na qual um dos personagens diz: "se não sabe onde quer ir, todos os caminhos servem." (mais ou menos isso).
Sim, penso que raras as vezes mantive minha mente organizada e, consequentemente, focada em algo... tudo nos seus devidos lugares, lugares limpos, arejados.
Depois de um mês de quase total isolamento social, passei por um período de longas cinco semanas de internação hospitalar. Posterior, mais semanas em casa. A sensação é que desaprendi tudo o que sabia. Sinto minha mente atrofiada, meu corpo atrofiado, meus movimentos atrofiados. Agora é o recomeço... agora a terapia mental e física, agora os primeiros passos, os primeiros movimentos... e até poucas horas eu queria tudo de uma vez: vida pessoal, faculdade, trabalho, quarto, tudo organizado e pronto para retomar, esqueci as pernas trêmulas e o corpo bobo, esqueci da mente dispersa e faltou ar, senti tudo rodar, as vistas escureceram, muitas cobranças, indiretas e diretas porque sou adulta e preciso estar bem. A família nos impõem; nossos valores nos impõem; nossos amigos e colegas impõem; eu imponho que tenho que estar pronta imediatamente para tudo. Por que? Eu não sei a resposta!
Então, lembro de uma das conversas com a psiquiatra. Estávamos no pátio, era uma sexta-feira de manhã, por volta de nove e pouca da manhã, céu azul, quase límpido, poucas nuvens ralas, o vento estava presente, brincando como as folhas da mangueira jovem ali perto de nós, balançando nossos cabelos, fazendo com que nossos dedos os colocassem atrás da orelha numa tentativa de ficarem quietos, em vão, claro! Depois de alguns minutos da minha fala chorosa, ela respondeu que eu deveria levar a vida de uma maneira mais leve, que uma receita de bolo (grosseiramente falando, um exemplo básico) não era executada colocando tudo dentro de uma vasilha e levado diretamente ao forno. Há processos, há medidas, há tempo, há atenção, há cuidados e eu precisava disso, caso eu quisesse um bolo gostoso. Naquela hora, como em outros momentos, senti aquela analogia como fosse uma coisa besta. Hoje faz sentido. Eu quero um bolo pronto, sem seguir os processos, sem observar as medidas, sem o tempo necessário. Não vai prestar!
Um padrinho meu disse uma vez: "primeiro as primeiras coisas!"; na terapia ouvia que era importante ir por partes, pequenas partes, um passo por vez. Aquela máxima: "Um pequeno passo para uma grande jornada." É preciso começar, só começar. Olho em volta, eu sou o centro, o ponto de partida, preciso começar por mim. Autocuidado, autoconhecimento...
08:39, vigésimo terceiro dia do oitavo mês de 2023...
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10:47, quarto dia do nono mês de 2023.