domingo, 12 de novembro de 2017

Uma visita...

Vai chegando um tempo na vida que ou vamos nos sentindo mais receptivos ou nos condicionamos a um certo isolamento...

Já quase completando quatro décadas, fico cada dia mais antissocial. Não recebo visitas em casa, e pra terem noção do quanto isso é sério, tenho aqui apenas uma cadeira... [risos, é tenso! Eu sei!!]... o pior de tudo [penso!] é que eu ainda comento isso com as pessoas... elas sabem da minha aversão a receber visitas em casa, sejam familiares, amigos ou até mesmo agentes do centro de zoonoses [sabe aquele pessoal que passa nas nossas casas para nos inspecionar e ver se temos ou não fazendas de aedes eagypti ?]. Independente de quem seja, pessoas chegam no máximo ali no portão. Desde 2014, posso contar nos dedos das mãos quantas pessoas recebi em casa, exceto os dias das mudanças de casa [foram duas]. 

Enfim, eis que chego do trabalho, deparo-me com uma cidadã no portão de casa! Falo "uai!" E ela vem toda serelepe para o meu lado, sinto aquele carinho todo como um abraço de boas vindas - do jeitim dela, claro -  e um "deixa eu ficar, deixa?!"... Entramos em casa, fico feliz, solto um sorriso de orelha a orelha quando a vi me acompanhando também feliz! Ofereço água e pão de queijo que tinha na bolsa! [como boa mineira que sou, carrego pão de queijo na bolsa!] Viu?! Sou uma boa anfitriã! Nem tiro a roupa de trabalho, começamos a conversar, enquanto preparar um lanchim pra nós. 

Ela, toda tranquila, se sentindo em casa, olha tudo, vai em todos os cômodos, inclusive até na minúscula área de serviço! Visita meu projeto de biblioteca, toca em alguns livros perto da cabeceira da cama, continuamos a conversar e a trocar carícias... [huuum]... isso é interessante! Ela está bastante a vontade. Isso me deixa tranquila e um pouco ansiosa, "será que vai ficar? Você quer ficar mesmo? Se for embora ficarei triste... ", claro! Esses e outros pensamentos ainda estão na minha mente. "Não estava preparada para te receber... você precisa de um banho... se ficar, amanhã preciso de mais comida, e de providenciar material para sua higiene e banho" - é uma desgraça a forma como a ansiedade anda me cercando e dominando meus pensamentos, já penso até no fato de não estar preparada para recebê-la... e não estou mesmo... Mal paro em casa, a casa ainda está como se o Katrina tivesse passado aqui dentro. Lanchamos, conversamos mais um pouquinho, e ela está toda dengosa.  Decidi que escreveria aqui, e cá estamos. Eu redigindo e ela me observando - entre um cochilo e outro.

Bem que eu falei para um senhor hoje mais cedo, "deixa chover, quando chove acontecem coisas boas comigo"... além de querer-me isolar em casa, estou muito supersticiosa assim como a vovó. 

Mês de novembro é um mês interessante agora, a meu ver, mês em que comecei a Marmita, mês de aniversário de amigos, primos e sobrinho... e agora a chegada dela! Interessante! Geralmente esperamos visitas. Hoje ela que me esperava! 

Então, depois do choque de ser uma analfabeta digital na semana passada, ver meu "mundinho" profissional de cabeça pra baixo dentro de um furacão, esta visita foi a melhor coisa dentro dessas duas últimas semanas! Claro, além de eu reabrir a Marmita!

Ao ler o Walter, em Marketing e Comunicação na Era Pós-digital, fiquei um tanto mais preocupada com o quanto estou atrasada... e o quanto sou uma resistente a esta nova Era... 
"E-r-a", pretérito imperfeito, um determinado período de tempo, presente ou passado...Nesta era eu era uma analfabeta digitalmente falando, mas ainda nesta era começo a ser re-alfabetizada em uma nova linguagem... eu era uma pessoa um tanto quanto resistente à certas mudanças. Mas a tecnologia está em tudo, e em todos, como se fosse, uma pedaço da nossa pele. E é isso que tenho procurado assimilar nos últimos seis dias... 

...bem, voltando ao motivo principal do texto, esta visita me trouxe sorrisos e paz que há muito não sentia! E ela e o Walter de certo modo são responsáveis por este texto. Ela por me fazer aceitar [e receber] visitas inesperadas. Ele por me abrir os olhos para a importância de enxergar que mundo digital está muito além de meras redes sociais, estar e ser digital é ir muito além blogar, "feicibucar" ou "instangrear"... 

Iracema... lembrei da Lygia Fagundes...
"Os gatos

Ele fixaria em Deus aquele olhar de esmeralda diluída, uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato não obedece. Às vezes, quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a instintiva humildade do cachorro, o gato não é humilde, traz viva a memória da liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo.

Mas espera, já estou me precipitando, eu pensava naquela fábula da infância: é que Deus Nosso Senhor pediu água ao cachorro que lavou lindamente o copo e com sorrisos e mesuras foi levá-lo ao Senhor. Pedido igual foi feito ao gato e o que fez o gato? O fingido escolheu um copo todo rachado, fez pipi dentro e dando gargalhadas entregou o copo nojento na mão divina. 

Acreditei na fábula, na infância a gente só acredita. Mais tarde, conhecendo melhor o gato, descobri que ele jamais teria esse comportamento, questão de feitio. De caráter. Ele ouviria a ordem e continuaria deitado na almofada, olhando. Quando se cansasse de olhar, recolheria as patas como o chinês antigo recolhia as mãos nas mangas do quimono. E mergulharia no sono sem sonhos, gato sonha menos do que cachorro que até dormindo se parece com o homem. Outro ponto discutível: dando gargalhadas?

Mas o gato não dá gargalhada, só cachorro. Meus cachorros riam demais abanando o rabo, que é o jeito natural que eles têm de manifestar alegria, chegavam mesmo a rolar de rir, a boca arreganhada até o último dente. O gato apenas sorri no ligeiro movimento de baixar as orelhas e apertar um pouco os olhos, como se os ferisse a luz. Esse o sorriso do gato - ô bicho sutil! Indecifrável. Inatingível.

Nem pior nem melhor do que o cachorro, mas diferente. Fingido? Não, ele nem se dá ao trabalho de fingir. Preguiçoso, isso sim. Caviloso. Essa palavra saiu da moda mas deveria ser reconduzida, não existe melhor definição para a alma do felino. Olham. Cavilosidade sugere esconderijo, cave - aquele recôncavo onde o vinho envelhece. Na cave o gato se esconde, ele sabe do perigo. Mas o cachorro se expõe, inocente. [...] 

Se você continua a leitura ainda, já deve ter percebido que recebi a visita de um felino, precisamente uma gata em preto e branco. Ela ainda está por aqui, comecei o texto por volta das 23:30 do décimo primeiro dia do décimo primeiro mês, e já estamos no décimo segundo dia, neste meio tempo, ela dormiu no tapete, correu atrás de formiga, pousou para fotos,... enfim, hospedou-se aqui! Veremos até quando! Se depender de mim ficará até ela não querer mais. Espero que ela queira muito ficar!

LONGO, Walter. Marketing e Comunicação - A era pós-digital - as regras mudaram.
TELLES, Lygia F. A disciplina do amor. São Paulo, Nova Fronteira. 1.980, p. 9-10. 

00:55, décimo segundo dia do décimo primeiro mês de 2017.

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